JORNAL POESIA 

A canção do latifundiário ou El terrateniente

É todo meu esse latifúndio
não teu, seu pobre imundo
são vastas essas terras e me pertencem
nem penses habitá-las, nem penses
Elas não nos cabem a nós dois
dois mundos inconciliáveis


Esses campos são do meu gado
não de teu menino, coitado
barriga crescida, cheia de verme, argh!
afasta-o do meu boi
não contamina o meu novilho
com o encardido de teu filho


São vastos os campos e bem habitados
por novecentos e trinta e oito mil gados
Não te cabem, minúsculo,
mísero trabalhador
teu chapéu de palha
na cabeça magra
teu corpo encurvado
pelo sofrimento
como me irritam,
ó homem de vento!


Não tens o garbo do meu gado
Seus alvíssimos chifres,
seu quarto rijo,
seu magnífico cupim
são versos de um poema
bem tramado por mim


Pra fazê-los derrubei centenas de árvores
entapetei toda a terra
para o pasto do meu gado
na minha fazenda, vê, não tem espaço
pra teu pé calejado
ali só pisa o casco
do meu garrote sagrado


Tua enxada não cavará
a cama do meu boi
nem me venha com essa
de agricultura familiar:
feijão, quiabo, abóbora, arroz…


Todo esse verde é pra mim
Pra ti? Só o capim
que comerás pela raiz,
infeliz!


Fora daqui, paupérrimo, fora!
deixa-me contemplar sozinho
a maravilha que pasta agora
por toda aquela colina, ali,
hectares, hectares e hectares afora…


Autor: Marcelino Rodrigues Cutrim Netto,
Estado: Maranhão
@marcelinorodrigues30

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