JORNAL POESIA POETAS 

Tereza Andrade  | Paranapanema

 

Meus pés são passos e aprendo com o rio – tudo volta.

O que poderia eu dizer ao nosso Rio Paranapanema?

Não sei as palavras que gostaria de dizer.

Rio, nosso Rio Paranapanema,

se eu pudesse beber sua água,

entrar em seu corpo,

porventura voltasse a escutar a canção que cantavas na minha infância?

És cheio de palavras mais vivas que nós.

Ando ao seu lado

para consolar meu imprestável coração.

Não tenho grandeza alguma,

mesmo que rezasse.

Óleos, óleos, óleos,

venenos, venenos, venenos,

Agrovendedores, agrovendedores, agrovendedores,

mordem, mordem, mordem!

Agronegociantes, agronegociantes, agronegociantes,

envenenam, envenenam, envenenam.

Escuto o rio do amor,

és cobra d’água andando dentro dos nossos olhos.

Acompanhas peitos leitos que sofrem,

és sangue da terra correndo em direção ao mar,

és todos os rios e risos.

E o mais belo de todos os rios,

pois passas na minha aldeia.

Cachoeiras, cachoeiras, cachoeiras,

corredeiras, corredeiras, corredeiras,

Saltos, saltos, saltos,

poços, redemoinhos, paredões, barreiros, várzeas,

pedras, sílex, cristais.

Ilhas, ilhas, ilhas.

Nosso Rio Paranapanema,

ria dos que passam aos teus pés,

ria dos que passam em teu corpo,

ria das garrafas, ria dos vazios cheios de tralhas,

ria dos ossos de metal,

ria dos homens gulosos sem energia.

Passas e continuas a passar,

fatiado e controlado,

limitado e regrado.

Gritas nas barreiras cheias de peixes mortos.

És ação, és luz, és serpente de vida.

Nós, dívidas e dúvidas,

Pesadas como as pedras que arrastamos,

endurecem e não nos ensinam nada.

És uma fotografia na memória.

És rio que gera energia e escurece desejos.

Rio, nosso rio,

nos sossegue,

nos amoleça.

E ao chegar a hora:

é é e.

Impérios caem.

Eles passarão.

Nas cachoeiras voarão dourados passarinhos!

————-

Estado: Rio de Janeiro

Links:

Autora: Tereza Andrade 

Lamparina editora
+55 21 3088 6427

 

Related posts